Uma Grande Mulher

As imagens ficam meio turvas quando penso em você.
Já não enxergo bem seus traços.
Não há mais fotos pra te visualizar, nem mensagens para repensar.
Os objetos passaram a fazer parte de um todo e pouco importa de quem foram dados.

Ainda sinto saudades de alguns momentos, mas sua voz já não me faz falta.
Substitui seus telefonemas por alguns ex-desconhecidos.
Minhas músicas-temas também foram mudadas.
Descobri um novo sorriso e resgatei a felicidade em mim.
O teu cheiro se evaporou e aquele cotidiano já não se encaixa mais.

Me esforço para relembrar aqueles olhos, mas tudo que consigo são rabiscos.
Aprendi um novo jeito de caminhar e minhas mãos já se movimentam a vontade sozinhas.
Redescobri minha antiga independência e já providenciei uma nova agenda.

Daquele tempo trago objetos, amigos e aprendizado, mas deixo para traz aquilo que um dia acreditei.
Não me permito carregar ressentimentos e os planos foram atualizados.
O trauma foi superado e no coração fixei uma placa de proteção.
Sigo erguida e leve, ciente de que não existe culpa, ciente de que não existe amizade, ciente de que não existe nada.

Agi quando tinha de agir.
Feri e fui ferida.
Tentei até me ver obrigada a desistir.
Não menti, não omiti.
Não usei e nem abusei.
Não desrespeitei e me respeitei.
Sai ilesa como pessoa e mulher, mesmo diante das sequelas e molecagem.

O relógio me parece cruel e, ás vezes, até me sinto um animal.
Mas se a vida me exige movimentos, o que posso fazer com este tempo que não demora a passar?

Dos restos se aproveitam as ilusões.
Dos planos se levam os que não te incluem.

Verdade que o personagem ainda não possui uma cara, mas quem disse que estou com pressa?

O muito que pensei, hoje me parece pouco.
O muito que desejei, também é quase nada.

Por dentro me sobra esperança.
Esperança que encontro diariamente em mim mesma.
Esperança que sempre enxergo ao me olhar no espelho.
Esperança da certeza de ser uma grande mulher.
Esperança de que fui feita para ser feliz, pra sempre, feliz!