sexta-feira, 7 de março de 2008

Bola pra frente


"Quando eu tinha uns 14 anos, quebrei a perna jogando futebol no colégio. A tíbia e o perônio, ossos que até de nome mudaram. Foi o maior mico. Os guris da turma estavam jogando na quadra ao lado. Eu caí na frente de todo mundo... pisei literalmente na bola; chorei feito "criança". Além da dor, me enchi de vergonha. Aquilo, na época, foi uma tragédia pra mim. Parecia que o mundo tinha acabado. Sofri por não poder freqüentar as "reuniões dançantes", sofri com o desconforto do calor (tinha que coçar a perna com uma agulha de tricô), sofri com a dor. Ah, parecia uma dor insuperável e infinita.

Aos poucos ela passou. Até me acostumei com as muletas e confesso que hoje, olhando pra trás, lembro com humor daquela pisada na bola e admito que as muletas tinham um certo charme. A situação expunha minha fragilidade, o que despertava nos meninos, ainda imberbes, o instinto do cavalheirismo. Tirei o gesso depois de 50 dias, me assustei com minha perna fina. Tive medo de nunca mais andar normalmente. Os primeiros passos se deram como se eu caminhasse sobre nuvens. A perna parecia levitar com a ausência do gesso. Fui logo pra natação pra recuperar a musculatura. Umas mil piscinas depois, as pernas já estavam simétricas e equilibradas novamente.

Tudo recuperado. Salve o tempo. Ahh, o tempo... Recentemente, levei outra rasteira da vida. Dessa vez, pisaram na bola comigo. A dor foi enorme, me enchi de vergonha, achei que era uma tragédia, chorei feito criança, minha fragilidade ficou exposta... Quantas coincidências!! Acho que já vi essa cena!! Felizmente, como no caso da perna quebrada, tempos depois a ferida já não dói, nem coça. Caminho como se andasse em nuvens, sem o peso de um relacionamento fadado ao insucesso. Falta só voltar pra natação, pra deixar tudo em cima e recuperar o equilíbrio entre corpo e mente.

Muitas semelhanças, muitas diferenças, uma certeza: o tempo cura tudo. Hoje, ao correr, dançar, dirigir, ..., nem lembro qual das pernas quebrei. Corro sem medo, danço sem vergonha, dirijo com prazer. Assim pretendo seguir também nos assuntos do coração. Amar sem medo, dançar conforme a música e dirigir minha vida ou deixá-la me levar ao lado de alguém que valia a pena, com todo o prazer.

Para quem levou uma rasteira, teve o coração partido, caiu na frente de todo mundo, se encheu de vergonha, sofreu, chorou feito criança, teve a fragilidade exposta e acredita ainda que nunca mais vai conseguir seguir normalmente, uma dica: bola pra frente, fé em Deus, passos firmes e coração tranqüilo."
(Autoria de Daniella Vianna/ março de 2008)

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