quinta-feira, 7 de maio de 2009

“Não é nada pessoal, mas...”







Apesar de corriqueira e de existirem diversos casos, de diversas proporções e em diversas partes do corpo, o câncer sempre nos assusta. É um diagnóstico cruel, que carrega consigo o peso da radioterapia, o temor da quimioterapia, o horror da fragilidade a que ficamos expostos. Perde-se peso, pêlos, cabelos, saúde. Ganham-se olheiras, careca, uma cor amarelada e a incerteza de que o tratamento poderá resultar em cura. Tudo isso já causa, por si só, um vazio no estômago, um certo pavor e crueldade. Some a todas estas sensações, desde o momento em que é dado o diagnóstico, uma exposição pública.
Me refiro a exposição pública tomando como exemplo nossa cara ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Apontada como a pré-candidata á presidência da república pelo PT, ela deu uma sapecada na aparência e coloriu seu armário, tirando aquele aspecto rígido que insistia em manter. Em um exame de rotina, foi surpreendida pela doença e, simultaneamente, teve de encarar em todos os veículos de comunicação do País, uma terrível pergunta: Qual seria o melhor nome para substituí-la na chapa petista para a corrida presidencial?!
A preocupação no governo federal seria se a capacidade de trabalho de Dilma (tida como extremamente exigente e detalhista) seria abalada pelos efeitos da quimioterapia. Como você enxergaria uma notícia que insinuaria que a manutenção de sua candidatura seria “simbólica e lisonjeira”?
Não sou petista, estou longe de integrar o fã clube da chamada “dama de ferro” e nem costumo entrar em discussões políticas, mas diante de um cenário deste não consigo me calar. Não se trata apenas de uma mera doença. Trata-se de um fato perturbador a qualquer ser humano, de qualquer faixa etária e classe. O efeito da doença não é paralisado ou amenizado se o paciente tiver mais ou menos dinheiro. A conta no banco não faz parte do diagnóstico e genética não conta para saber se o câncer é mais fulminante ou ainda pode ter cura.
Imaginem se seus pais, ao descobrirem que você tem câncer, sugerissem um novo nome para o novo bebê que precisam planejar já que existe a possibilidade de você não sobreviver? Imaginem se seu chefe questionasse, em público, sua capacidade de trabalho apenas por você ter de tratar de uma doença grave? Imaginem se seu namorado optasse por um novo candidato ao seu coração, já que os efeitos da quimioterapia podem acabar com seu visual?
Pois é, são estas as possibilidades que eu imagino quando vejo notícias em relação à candidatura e capacidade de Dilma Roussef.
Neste cenário, fica claro que se trata de política, de interesse, de praticidade.
Bem naquela linha de que “não é nada pessoal, mas você já não serve mais” .
Em resumo, diria, no mínimo, lamentável...

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